sábado, 28 de dezembro de 2019

Uma tarde diferente com o 8ºD

Sara de seis anos, pergunta à avó quantos anos ela tem.
- Setenta.
- Setenta? Tantos…!
- Pois é, eu já sou velha…
- Não, avó. Tu não és velha. Tens é muitos anos! (Maria José Felix, Envelhecer sem ficar velho)

No dia 15 de dezembro, a turma do 8ºD foi visitar a Casa de Repouso São Francisco situada a poucos metros da escola. Telefonemas feitos, autorizações concedidas, tudo pronto para esta missão que se revelou muito impactante.
A pé, transportando as lembranças que os alunos produziram (uns poemas e postais de Natal para oferecer a cada idoso, uma canção para partilhar e uns bolinhos para adoçar o momento) saímos da escola expetantes do que iriamos encontrar. A professora Paula Dourado impulsionadora da atividade, a professora Sofia Leitão e eu própria acompanhávamos os alunos.
O que se passou a seguir foi tão intenso, tão verdade que não é possível verbalizar por palavras. Apenas que este contacto com os mais velhos foi profundamente emocionante, na simplicidade de cada gesto, de cada palavra, de cada lágrima, de todos os abraços. Saímos da Casa de Repouso num silêncio profundo. Os olhos e as expressões dos nossos alunos diziam muito, uns precisaram mesmo de chorar, de procurar um abraço. Lembraram os avós, os pais que tinham partido ou que estavam longe, mas sobretudo viram-se confrontados com uma realidade que os magoou. A perda de capacidades básicas, as doenças degenerativas, o esquecimento, a solidão, a revolta, o envelhecimento, o abandono, o fim da vida.
Partilho alguns dos registos dos alunos participantes:
“Senti-me muito feliz em partilhar a minha tarde e muito emocionado porque me lembrei da minha bisavó” Cláudio Tavares
“Foi uma boa experiência para mim. Senti uma emoção muito forte” Mussa Nhabali
“Quando entrei no lar senti que tinha de animar aqueles idosos, que tinha de conseguir um sorriso. Tive muitas lembranças dos meus avós e de uma tia avó que me criou. Isto fez-me refletir e comprometer-me em cuidar dos meus pais. Espero que estes idosos sorriam ainda muito.” Tatiana Pereira
“Ao entrar senti uma grande tristeza e uma necessidade de ajudar. Comecei a interagir com eles e ouvi histórias maravilhosas, mas as suas reações emocionaram-me. Particularmente a de uma senhora que sempre que nos aproximávamos começava a chorar emocionada, ainda o casal de professores com uma grande diferença de idade, ele mais velho internado e ela mais nova que vinha todos os dias passar a tarde com ele. Foi uma experiência enriquecedora. Penso que todos crescemos um pouco com ela.” Matheus Pereira
“A ida ao Lar foi muito boa, senti alegria no rosto deles. Foi uma experiência que gostaria de repetir, para que eles não se sintam sozinhos, para lhes dar força para a vida.” Rossana
“Fez-me pensar que temos de aproveitar e dar valor aos dias. Fiquei triste de saber que os familiares não os podem ter perto, porque sofrem de doenças. Oferecemos bolinhos, conversámos e cantámos para eles e penso que eles ficaram felizes.” Luyana Lisboa
Um estudo recente do Instituto Nacional de Estatística revela que quase metade da população portuguesa terá mais de 65 anos dentro dos próximos 60 anos. Mais de 45 mil idosos foram sinalizados no ano passado por viverem sozinhos ou isolados, e dados de 2016 revelam que cerca de 40% da população portuguesa com mais de 65 anos se encontra sozinha durante 8 horas ou mais por dia. Quase um milhão de idosos está em situação de solidão ou isolamento. Que podemos nós fazer para valorizar o conhecimento e a experiência dos idosos numa sociedade que continua a “glorificar a condição de jovem” (Valdemar Cruz) quando podia aproveitar a possibilidade da interação e troca de experiências entre várias gerações.
Queremos agradecer à direção da Casa de Repouso de S. Francisco pela abertura e disponibilidade de nos ter mais uma vez recebido e acolhido tão bem.
Esta atividade promovida no âmbito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento (professora Paula Dourado) teve a parceria das disciplinas de Português (professoras Sofia Leitão e Lara Cunha), Educação Visual (professor Gilberto Nunes) e a biblioteca.

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